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25/06/15

Idadismo: a discriminação dos mais velhos em Portugal.

O preconceito existe. E se por vezes não escolhe raça, cor, estrato social ou género, também não escolhe idade. Quando a discriminação é baseada na idade, designa-se por idadismo. E viola os direitos humanos e civis.

Quando conhecemos uma pessoa, temos tendência a classificá-la com base nas três caraterísticas mais visíveis: o género, a cor e a idade. Esta classificação e os preconceitos que daí derivam têm origem na nossa organização social, pelo que a atitude discriminatória pode, muitas vezes, ser inconsciente. Além disso, e de acordo com um relatório do European Research Group on Attitudes to Age publicado em 2010, “as pessoas podem não ter uma consciência directa sobre o seu grau de preconceito”.

No entanto, isso não significa que esse preconceito não exista. Muito pelo contrário, o idadismo, ou o preconceito baseado na idade, é real e está bastante enraizado em várias componentes do nosso quotidiano. Olhando com atenção para o que se passa à nossa volta, conseguimos perceber atitudes que comprovam este preconceito e que podem ocorrer em qualquer contexto, seja ele mais íntimo e familiar, como em casa ou entre amigos, ou mais genérico e abrangente, como nos serviços públicos ou até mesmo em instituições de residência.

A discriminação pode assumir um caráter mais hostil e direto ou esconder-se no paternalismo e na benevolência. De acordo com o estudo citado, as pessoas com mais de 70 anos são muitas vezes vistas como simpáticas, respeitosas e com elevados padrões morais. Porém, a “caraterística que lhes é menos atribuída é a competência” e, por vezes, regista-se até uma certa pena e admiração que são classificadas como um preconceito benevolente.

Por isso, quando nos referimos ao idadismo, não estamos a falar de atitudes agressivas e violentas que se registam em várias faixas etárias e contextos sociais, mas sim de abordagens discriminatórias que estão muitas vezes embutidas na forma como encaramos o mundo, embora nem sempre estejamos conscientes da sua existência e das suas diferentes manifestações.

Se pensarmos que Portugal tem uma sociedade cada vez mais envelhecida, esta atitude discriminatória em relação aos mais velhos é particularmente preocupante.  Os dados dos Censos de 2011 revelam que cerca de 20% da população portuguesa tem mais de 65 anos, o que coloca o nosso país entre os 5 mais envelhecidos de toda a União Europeia.

Num outro estudo, Cristina Coelho, da Escola Superior de Portalegre, defende que “somos todos potenciais perpetradores e todos somos potenciais vítimas do idadismo.” Por isso, sempre que:

olhar para um idoso com pena...

inferiorizar e desvalorizar competências, opiniões ou ideias...

diminuir as suas capacidades ou limitar a sua autonomia e liberdade...

... lembre-se que essas atitudes são discriminatórias e que devem ser combatidas!

Como? Fomentando o contacto entre as diferentes faixas etárias; organizando atividades conjuntas entre jovens, adultos e idosos; valorizando a sua sabedoria e experiência; e promovendo a liberdade, a autonomia e a independência dos mais velhos, o que, em última instância, contribui para reforçar a sua dignidade, autoestima e qualidade de vida.

Se quiser aprender mais sobre este tema, aconselhamos a leitura do relatório Idadismo na Europa: Uma abordagem psicossociológica com o foco no caso Português do CIS/ISCTE-IUL coordenado por Maria Luísa Pedroso de Lima e disponível no nosso Banco de Documentação.

Fonte da imagem: Observador/PORDATA.

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