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05/01/15

É possível evitar ou mesmo minimizar a demência?

Começamos a semana com um artigo de opinião sobre um assunto de grande importância para todos nós: a possibilidade de minimizar ou mesmo evitar a demência. Este artigo foi originalmente publicado no jornal Ciência Hoje e é da autoria de Isabel Pinheiro, psicóloga clínica no Hospital da Lapa (Porto).

Podemos fazer algo para minimizar ou mesmo evitar a demência?

É um sonho do ser humano manter a vida longa com saúde física e mental

 
"Além dos anos de educação, estudar e compor música, escrever poesias, estudar uma língua estrangeira, praticar desportos, pintura, teatro, dança, bordados, artesanato, entre outras atividades que envolvem a mente fazem a diferença ao longo da vida e ajudam a prevenir o desenvolvimento de deficits de atenção, memória e de demências.
 
É um sonho do ser humano manter a vida longa com saúde física e mental. Acreditar que o envelhecimento é o resultado de um histórico da vida que cada um de nós foi construindo, é o grande desafio! Ver o envelhecimento numa perspetiva de desenvolvimento ao longo da vida e não como um fatalismo.
 
O cérebro é a fonte de todo o comportamento humano, controlando ao mesmo tempo um conjunto de funções incrivelmente complexas.
 
O cérebro recebe informação e transmite-a aos locais apropriados para o seu processamento.
 
O cérebro está dividido em duas metades sendo estas chamadas de hemisférios cerebrais. Cada hemisfério é especializado para um tipo particular de informação. Como exemplo, as funções matemáticas e o desenvolvimento do sentido de direção, são representados pelo hemisfério direito; a linguagem, a leitura e a escrita, pelo hemisfério esquerdo.
 
Quando ocorre anomalias nesses hemisférios cerebrais, que podem ser crónicas ou progressivas com perturbação de múltiplas funções, incluindo a memória, o pensamento, a capacidade de aprendizagem, a orientação, a compreensão, o cálculo, a linguagem e o julgamento, temos o que se designa como uma síndrome decorrente de uma doença cerebral e é qualificada de uma forma geral por demência.
 
A grande maioria dos casos de demência ocorre entre pessoas idosas, mas é possível que ocorra também entre adultos e até entre jovens.
 
O processo de morte das células do cérebro tem início entre dez e quinze anos antes de que os problemas de memória se tornem aparentes. A perda da memória dificulta a aproximação das pessoas nas suas relações afetivas, familiares e sociais . A memória biográfica dá o reconhecimento da identidade e sem lembrar-se de factos, de pessoas e de lugares, diz-se que há menos da pessoa a cada dia que passa. A mesma fica impossibilitada de se relacionar, de cuidar de si, de planear a sua qualidade de vida. Perde a sua razão, a autonomia e a coerência. Dá a impressão que o “Eu” se desvincula das funções cognitivas, garantindo apenas a sua sobrevivência.
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe três estágios de demência e sintomas associados:
 
Estágio Precoce - Normalmente passa despercebido, sendo que os familiares consideram os sintomas como parte integrante e normal do envelhecimento. Devido ao seu aparecimento ser gradual é difícil precisar o seu início.
 
Estágio Médio - As limitações tornam-se mais claras. A pessoa com demência demonstra dificuldades nas atividades diárias.
 
Estágio Avançado - Este estágio é representado por uma total dependência e inatividade. Os distúrbios da memória tornam-se muito sérios e os aspetos físicos da demência tornam-se evidentes.
 
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO COGNITIVA FUNCIONAL
 
O papel do psicólogo clínico é importante no uso de instrumentos de rastreio que identificam casos leves de demência. A combinação de uma escala funcional, que avalia as atividades da vida diária e um teste cognitivo, por exemplo, o Mini-Exame do Estado Metal (MEEM), é como realizar o” chek-up” da memória.
 
Para quem não tem problemas de memória e para quem os tem, os testes psicológicos servem para fornecer dados mais objetivos de como se encontra o estado de memória de cada um e de acordo com os resultados obtidos receber a orientação mais adequada. Entre os testes cognitivos mais comumente utilizados na prática clínica podemos citar o MEEM, o Teste do Relógio, a BLAD (Adaptação da Bateria de Lisboa para Avaliação das Demências) e a Escala de Depressão Geriátrica.
 
O MEEM é o teste de rastreio e triagem mais utilizado no mundo, pois é simples, de aplicação rápida e auto-explicativa. Determina a extensão da avaliação cognitiva e é composto por diversas questões, caracteristicamente, agrupadas em sete categorias, cada uma com a finalidade de avaliar funções cognitivas específicas como orientação, atenção e cálculo, retenção ou registo de dados, memória e linguagem. A pontuação do MEEM pode variar de um mínimo de zero a 30 pontos.
 
ANTES PREVENIR DO QUE TRATAR
 
Aprender ajuda a prevenir demências
 
Além dos anos de educação, estudar e compor música, escrever poesias, estudar uma língua estrangeira, praticar desportos, pintura, teatro, dança, bordados, artesanato, entre outras atividades que envolvem a mente fazem a diferença ao longo da vida e ajudam a prevenir o desenvolvimento de deficits de atenção, memória e de demências. Aprenda algo novo (um desporto, uma língua) e modifique os seus hábitos, como seja use o relógio de pulso no braço direito (ou no braço esquerdo, se for canhoto); escova os dentes ou escreva numa folha de papel com a mão contrária da de costume, concentre-se nos pormenores que nunca reparou antes.
Técnicas que ajudam a evitar progressão rápida de demências
 
- Treino cognitivo: exercícios de memória que podem melhorar de forma global o funcionamento da memória.
 
- Terapia de orientação de realidade: tem como princípio apresentar dados de realidade ao paciente de forma organizada e contínua, criando estímulos ambientais que facilitem a sua orientação.
 
- Terapia de remotivação: tem como objetivo fazer com que os pacientes que estão em isolamento recuperem o interesse pelo ambiente, através de debates sobre temas cotidianos e atualidades, incentivando a formação de opiniões e a comunicação interpessoal.
 
- Estratégias compensatórias: utilização de "ajudas externas" para amenizar os deficits de memória.
 
Para ajudar a manter esse saudável desenvolvimento, temos o conceito de Neuroplasticidade, ou plasticidade cerebral, que é a capacidade de recriar novas conexões das nossas células nervosas, processo que nos ajuda continuamente a aprender. Aprenda algo novo aos 40 anos, aos 50, aos 60,… Exercitar o seu cérebro é tão importante quanto exercitar o seu corpo. Quem continuar a desenvolver a sua reserva funcional através de prática de exercícios mentais e um estilo de vida saudável, é quem tem mais chances de manter a plasticidade cerebral e sua habilidade de aprender, à medida que envelhece.
 

Mantenha-se saudável física e psicologicamente à medida que vai “crescendo” na sua idade. Torna-se fundamental fazer uma avaliação cognitiva, onde está incluído o processo de memória, antes de surgirem problemas cognitivos e de memória, bem como, depois de dar início a um estado de demência. Em ambos os casos, o beneficio de prática de exercícios para o cérebro é enorme representando sem dúvida uma mais-valia para a pessoa e para todos os que a rodeiam."

© Jornal Ciência Hoje. Fonte do artigo.

 

 

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