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10/07/14

Deambulação e demência: como evitar que os doentes se percam

“Quando ele se dirige a uma loja das proximidades e não regressa, tenho que sair e ir procurá-lo. Fico calma quando o encontro. Por vezes, ele sorri e diz: 'Estou contente por te ver. Dei um longo passeio.' Outras vezes, recusa-se a entrar no carro e eu deixo-o ir. Contudo, mantenho-o sob vigilância até que fica cansado e aceita a boleia.”*

Este é o testemunho pessoal de um cuidador que lida diariamente com um paciente de Alzheimer e com as consequências que esta doença pode provocar em termos de desorientação no espaço e no tempo. As pessoas que sofrem de demências como a doença de Alzheimer têm uma tendência frequente para deambularem. No entanto, como a doença afecta a sua capacidade de orientação, estes doentes correm sempre um risco acrescido de se perderem. Quase todos os dias surgem nos meios de comunicação notícias de idosos que desaparecem, sofrendo a sua maioria da doença de Alzheimer. Os doentes podem esquecer-se onde vão, o que iam fazer ou onde vivem, o que não só os leva a perderem-se como impede que consigam encontrar o caminho de volta para sua casa. Ao perder-se, a pessoa fica exposta a vários riscos que podem pôr em causa a sua própria integridade física.

Existem vários conselhos para prevenir e lidar com a desorientação e a deambulação, nomeadamente manter um ambiente estável e reconhecível para o doente, procurar um padrão para a deambulação, assegurar que o doente traz sempre consigo uma identificação que o possa ligar ao seu cuidador e ao local onde vive, ou procurar distrações que mantenham o doente activo e ocupado.  No entanto, a possibilidade do doente se perder mantém-se sempre como um risco bastante real e foi a pensar nestas situações que um investigador português desenvolveu uma aplicação de baixo custo que permite localizar pessoas e bens. 

Luís Figueiredo é professor no Instituto Politécnico da Guarda e coordenador do inovador projeto Magic Tracking. O sistema funciona como um relógio de pulso que, utilizando a tecnologia GPS, permite localizar pessoas ou bens através do Google Earth. Tal como explica Luís Figueiredo, a grande novidade do Magic Tracking é o seu preço extremamente reduzido. Assim, é possível proteger pessoas e bens com um custo anual muito baixo. Os equipamentos são comercializados pela empresa MagicKey e custam entre 100 a 150 euros.

Esta tecnologia pode ser particularmente útil para as pessoas que sofrem de demência. Devido à desorientação provocada pela doença, os pacientes têm não só dificuldade em identificar o local onde se encontram, como também em reconhecer como chegaram até ali ou como regressar às suas casas. Por isso, o Magic Tracking é uma ferramenta extremamente útil para familiares, cuidadores e, até mesmo, para facilitar o trabalho das autoridades locais, caso seja necessário recorrer à sua ajuda para resgatar o idoso. Finalmente, importa ainda lembrar que este tipo de aplicações contribui também para aumentar a independência e a segurança de quem sofre de demência. Apesar de não ser possível evitar por completo que uma pessoa com demência se perca, é agora possível encontrá-las com maior rapidez e segurança.

Veja neste vídeo como funciona o Magic Tracking e, se estiver interessado, pode obter mais informações no website oficial do projecto

 

 

*Fonte to testemunho: Comissão Europeia e Alzheimer Portugal, "Manual do Cuidador", 2006 | Imagem: Magic Tracking Project

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O que pensa sobre este sistema de localização? Se é familiar ou cuidador de alguém que sofre de demência, já alguma vez passou por uma situação de risco em que o doente se tenha perdido? Comparti-lhe connosco como foi e se acha que aplicações como o Magic Tracking o poderiam ter ajudado. 

 

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