blogue

09/04/15

Idosos institucionalizados: que qualidade de vida?

O conteúdo deste artigo resulta de um dos projetos candidatos à exibição de pósteres durante o II Encontro de Investigadores intitulado "Investigação e envelhecimento: respostas para dar qualidade à vida" realizado no dia 10 de março em Salamanca. O encontro deu a conhecer inúmeros projetos na área da investigação sociossanitária ou psicossocial, em matéria de saúde ou de inovação tecnológica (escolhidos previamente por um Comité Científico) e dentro do campo do envelhecimento, da doença de Alzheimer e de outras demências. Hoje, mostramos-lhe o que foi apresentado pela equipa do Instituto Politécnico de Bragança. 

Por Cláudia Marlene Gonçalves (Fisioterapeuta, Aluna do curso de Mestrado Cuidados Continuados em Saúde, Instituto Superior Politécnico de Bragança), Gorete Baptista e Maria José Gomes (Professoras na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança).

Introdução
 
O envelhecimento demográfico que se verifica nos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento é uma realidade que todos nós reconhecemos e temos que encarar. Dado o envelhecimento significativo e o aumento da esperança de vida da população, tornam-se importantes os estudos sobre a qualidade de vida das pessoas idosas.
 
A evolução do conceito de qualidade de vida tem levado a inúmeras definições, nem sempre consensuais. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) procurou unificar este conceito, criando o grupo WHOQOL que definiu a qualidade de vida como “a perceção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações”. Com este cenário de mudanças na pirâmide populacional, a maioria dos idosos necessitará de ser institucionalizado, pois nem todas as famílias tem disponibilidade de prestar os devidos cuidados, sendo que, em uma instituição, o idoso terá disponíveis os cuidados necessários. 
 
Neste estudo pretendemos avaliar a qualidade de vida dos idosos institucionalizados num Lar e numa Unidade de Cuidados Continuados.
 
Palavras-chave: envelhecimento, institucionalização, qualidade de vida.
 
Material e método
 
Foi realizado um estudo exploratório e aplicado o WHOQOL-Bref para avaliar a qualidade de vida e uma série de questões sobre características sociodemográficas. A recolha de dados foi realizada entre agosto e setembro de 2014 tendo sido definidos como critérios de inclusão para o estudo, idosos institucionalizados num lar e numa Unidade de Cuidados Continuados, com capacidade de resposta objetiva, obtendo-se uma amostra de 71 pessoas.
 
Resultados
 
A maioria dos idosos da amostra eram mulheres (54,9%). A idade varia entre 65 e 98 anos, com uma média de 81 anos. Verificou-se que a maioria das pessoas (47,9%) só aprenderam a ler e escrever e apenas 1,4% têm estudos. 70,4% estão num lar de idosos e 29,6% numa Unidade de Cuidados Continuados. Em média, os idosos mais satisfeitos com a qualidade de vida têm até 70 anos, seguidos dos com mais de 90 anos, especialmente no subdomínio físico. Os menos satisfeitos têm entre 70 e 80 anos.
 
Analisando as tabelas abaixo, podemos ver que não há evidência estatística suficiente para dizer que as diferenças na qualidade de vida observada entre os sexos são significativas (Tabela 1). Os idosos institucionalizados num lar (LSCM) são em média mais satisfeitos do que os internados numa Unidade de Cuidados Continuados (UCC) e nesta última, a menor satisfação incide nos subdomínios do Meio Ambiente, Social e Psicológico (Tabela 2). Na Tabela 3 destacam-se os coeficientes de correlação que mostram a intensidade mais forte entre o Domínio Físico e Meio Ambiente (r = 0,776); Domínio Físico e Domínio Psicológico (r = 0,798); Domínio psicológico e Meio Ambiente (r = 0,807).
 
 
Tabela 1- Correlação entre os fatores da escala e o género.
 
 
 
Tabela 2 - Correlação entre os fatores da escala e a instituição.
 
 
 
Tabela 3 - Correlação entre os fatores da escala.
 
 
Conclusões
 
Neste estudo, os valores médios encontrados indicam satisfação em todos os domínios da qualidade de vida. Portanto, a maioria da amostra revela idosos que estão satisfeitos com a sua qualidade de vida em geral, bem como com a sua saúde. A baixa satisfação no Subdomínio Físico pode dever-se à perda de autonomia. A saúde física é fundamental para o estado de felicidade, bem como as ausências de sofrimento e doença promovem o bem-estar. Portanto, a perceção da qualidade de vida física passa pela qualidade da saúde e autonomia, capacidades essenciais para as atividades da vida diária. É uma das variáveis individuais principais para a satisfação com a qualidade de vida. A forma como o idoso auto-avalia a sua saúde e a atitude como encara o envelhecimento são substanciais para o seu bem-estar.
 
Sendo assim, urge desenvolver instituições onde as pessoas idosas encontrem “uma casa, uma família”, para que não sintam como um golpe insuperável o afastamento da sua casa, dos seus amigos, da sua família, das suas rotinas e até de si próprio.¹²³.
 
Bibliografia
 
¹ Canavarro, M. C., Simões, M. R., Vaz Serra, A., Pereira, M., Rijo, D., Quartilho, M. J., Carona, C. (2007). Instrumento de avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde: WHOQOL-Bref. InM. Simões, C. Machado, M. Gonçalves, & L. Almeida (Eds.), Avaliação psicológica: Instrumentos validados para a população portuguesa (Vol. III, pp. 77-100). Coimbra: Quarteto Editora.
 
² Lopes, M et al. (2010). Plano Nacional de Saúde 2011-2016: Cuidados Continuados Integrados em Portugal – analisando o presente, perspetivando o futuro (Relatório Preliminar). Évora.
 
³ Perracini, M. R. (2006). Planeamento e adaptação do ambiente para pessoas idosas. Em: Freitas, L., Py, F. A. X., Cansado, J. Doll, e M. L. Gorzoni, Tratado de geriatria e gerontologia (2ª ed., pp.142-1151). Guanabara Koogan. Rio de Janeiro.

 

Submeter um novo comentário